O Projeto Tamar informou que ao menos dez filhotes de tartarugas foram encontrados mortos, sujos com óleo, no litoral norte da Bahia, em diversas praias, entre elas Arembepe e Praia do Forte, que ficam nas cidades de Camaçari e Mata de São João, respectivamente.
Na semana passada, o Tamar havia suspenso a soltura dos filhotes, como medida de proteção aos recém-nascidos, por causa da contaminação.
Estamos justamente na época de desova desses animais.
As praias de Sergipe e do norte da Bahia são áreas consideradas prioritárias para a reprodução e conservação de três das cinco espécies de tartarugas marinhas, que ocorrem no litoral brasileiro.
O que os biólogos optaram foi realizar a soltura das tartarugas em alto mar.
Todavia, parece que muitas não conseguiram sobreviver.
E as consequências da tragédia se repetem por outras praias.
A triste foto abaixo foi postada, no Facebook, pelo Instituto Biota de Conservação, no dia 6 de outubro.
A tartaruga marinha, coberta de óleo, foi achada em Pontal do Coruripe, no litoral sul de Alagoas.
Por toda a costa do Nordeste, dezenas de tartarugas adultas já foram encontradas sem vida ou resgatadas, com o corpo repleto de petróleo cru, que foi derramado em águas brasileiras – um crime ambiental seríssimo, que ainda não teve um responsável apontado.
A contaminação do mar começou no início de setembro.
Até o momento, o que as autoridades afirmam é que o petróleo tem origem na Venezuela e não foi produzido no Brasil.
Os números oficiais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), divulgados na segunda (14/10), dão conta de 13 tartarugas mortas e mais dez resgatadas, ainda vivas.
Mas pelo jeito, estão longe de refletir a real situação do problema.
Um balanço feito pelo Instituto Verdeluz afirma que só no Ceará, desde o início do aparecimento das manchas de óleo, foram achadas 21 tartarugas mortas.
Análises mais detalhadas irão confirmar, ainda, se a causa dos óbitos foi mesmo o petróleo.
No sábado (13/10), o Instituto Biota também revelou que havia achado um golfinho, sem vida, encalhado, na praia de Feliz Deserto, em Alagoas.
O animal estava sujo com manchas de óleo.
Segundo a equipe do instituto, que fez um exame inicial ali mesmo, onde o boto-cinza (Sotalia guianensis) encalhou, o macho, com 1,76m, não apresentava óleo no trato digestivo e respiratório.
Estado de emergência
O governo da Bahia, último estado onde a mancha chegou, anunciou um decreto de emergência para ajudar todos os municípios afetados pela contaminação.
A intenção é liberar recursos para que seja feita a limpeza das praias nesses locais.
Apesar de o governo federal ter tido que o pior da tragédia já passou, é difícil de acreditar nisso.
Já são 167 localidades atingidas, nos nove estados nordestinos, além de 12 unidades de conservação afetadas.
Além do impacto sobre a pesca, especialistas estão preocupados com animais marinhos como o peixe-boi, já ameaçado de extinção.
Omissão do governo federal
Acatando a um pedido do Ministério Público Federal de Sergipe, o juiz Fábio Cordeiro de Lima determinou que o governo federal e o Ibama “implantem, em até 48 horas, barreiras de proteção nos rios São Francisco, Japaratuba, Sergipe, Vaza Barris e Real, com o consequente monitoramento”.
Caso não cumpram a determinação, a multa será de R$ 100 mil, por dia.
Segundo o texto, mesmo que o óleo não seja brasileiro (já que estudos indicam que ele é venezuelano, como falei mais acima), o Estado tem dever de proteger o meio ambiente e sua população.
“As consequências abrangem bens ambientais que pertencem à União, uma vez que envolvem danos (concretizados ou potenciais) a rios que banham mais de um estado, ao mar territorial, a faixa de praia e áreas compreendidas como terrenos de marinha (Zona Costeira), aos recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva, bem como lesões à fauna silvestre e à flora”, destacou Ramiro Rockenbach, procurador da República, que assinou o documento, e disse ainda que “a União está sendo omissa”.
Fotos: Mauricio Cardim/Projeto Tamara (abertura) e reprodução Facebook Instituto Biota de Conservação
Fonte: Suzana Camargo / Conexão Planeta